lítio

situa-se no limite entre remédio e veneno, mas o que importa é que me ajuda a driblar o maior veneno que pode me matar: minha loucura.

entender que preciso de você para seguir bem é o que importa.

o que importa sou eu mesma. é minha sanidade. é minha vida.

 

dar um tempo

de vez em quando é preciso dar um tempo na vida. parar e perceber se ela tá indo por um caminho bom ou nao. de vez em quando é preciso parar e refletir sobre as nossas escolhas. se nao fazemos isso, precisamos que alguém o faça. aí vem a internaçao.

INTERNAÇAO. tem gente que morre de medo dessa palavra, mas eu já nao tenho essa visao ruim dela até porque as minhas duas experiências com internaçao foram excelentes. eu me recuperei e decidir voltar a escrever nesse blog para desabafar mesmo.

bom, sem querer entrar muito em detalhe sobre o que me levou a me internar, o fato é que eu nao estava bem e precisava de ajuda médica e psicológica pra recuperar minha sanidade mental. eu me internei a primeira vez em fevereiro deste ano. fiquei cerca de um mês lá na clínica e, sério, o meu estado mental e físico do começo pro fim da internaçao eram nitidamente opostos.

saí de alta e tive novamente um problema pessoal que me levou a me internar mais um vez. e daí por diante eu só fui melhorando e aprendendo a lidar cada vez melhor com meu transtorno e com os problemas da vida como um todo. recomendo a cada pessoa que eu conheço, seja de longa data, seja de pouco tempo, que passe por essa experiência de se internar numa clínica de saúde mental, abandonar as redes sociais e smartphones e focar em você e no tratamento proposto. vale muuuuuito a pena.

eu saí da segunda internaçao outra pessoa. muito melhor. isso testado e comprovado pela minha família e amigos. eu realmente estava melhor e até mais bonita!

de vez em quando é bom e benéfico dar um tempo. largar o que tá nos fazendo mal e rever nossos conceitos, prioridades e escolhas na nossa vida.

por que você nao tenta?

corda bamba

a gente tá numa boa hoje e, amanhã, nossa! tá bem também! obrigada, universo!

mas até quando a gente vai ficar bem? essa é uma pergunta que todo bipolar se faz todos os dias. de repente a gente começa a se sentir diferente de como tava antes e, sem qualquer explicação plausível ou palpável, pá: uma crise. comigo foi assim em 2013, 2014 e 2016. mas isso não quer dizer que 2015 foi um ano bom; ao contrário, foi pura depressão e infelicidade declarada. foi péssimo. foi o pior ano da minha vida. como eu gosto de definir: foi trash.

meus amigos todos perceberam que eu não estava bem. meus pais já não sabiam o que fazer. meus peguetinhos mal tinham reação quando estavam comigo tentando me animar pra vida e eu simplesmente não achava graça em nada. eu mesma não me aguentava. sabe aquela atmosfera de negatividade sem fim? essa era a minha vibe. pura negatividade. puro sentimento de morte.

sentimento de morte. o que fazer com ele? viver com ele. sabe por quê? porque ele simplesmente não vai embora. você aprende a respeitá-lo. só. você acorda e dorme com ele. acaba que ele vira seu companheiro de pensamento. tudo é ruim. tudo não passa de desgraça na sua vida e na dos outros. fulano passou no vestibular; nossa! que merda! vai se lascar de estudar. fulano vai ser pai; pqp, coitado. acabou a boa vida. fulano ganhou na mega-sena; coitado, dinheiro não compra nem traz felicidade. aliás, felicidade existe? se sim, não lembro.

entendeu o que é o sentimento de morte? é a ausência de vida ou de qualquer evidência de que ela existe ou é boa. na verdade, você sabe que felicidade existe, só que parece que existe só pros outros. ela não é muito sua companheira. ela não curte andar contigo, te acompanhar.

daí que depois de um bom tempo já vivendo com o sentimento de morte, todo santo dia, ele simplesmente desaparece e vai embora sem deixar um bilhete de despedida. chega a euforia ou a conhecida “fase maníaca”. pronto! o circo está preparado para pegar fogo. euforia é justamente o oposto de depressão. o bipolar bipolar meeeesmo adora a euforia. durante essa fase, tudo fica melhor, mais vívido, mais colorido, mais mais. você se sente o tal, dono do mundo, a megalomania toma de conta do seu ser. e tudo flui uma beleza. e tudo vai tomando um rumo não muito seguro. os riscos surgem e você topa lidar com eles, independente das consequências. o boy é o mais lindo. você é a mais gostosa. o big mac fica mais gostoso, não importa as calorias mais. a cachaça desce mais fácil de água e o carro não aceita correr a menos de 80km/h. pano de fundo perfeito pra uma merda acontecer.

ainda bem que tem família e amigos pra mostrar que você não tá indo tao bem quanto parece. agradeço imensamente a cada um de vocês que me freou este ano. acho que eu não estaria na fase da eutimia (normalidade) se não fossem todos vocês. acho que, sem essa ajuda, eu não conseguiria estar bem hoje pra avaliar que passei sim por momentos muito ruins e por momentos bons até demais.

só queria dizer obrigada!

obrigada!

 

o meu sete a um

meu sete a um se resume em pelo menos 18 meses de pura agonia e pensamento de morte. meu sete a um começou coincidentemente no evento do sete a um brasil e alemanha. eu sinceramente não dou a mínima pra futebol, mas, porra!, era a copa! meus amigos pareciam meio anestesiados pelo sofrimento que aquele vexame causou na nação e eu anestesiada pela depressao que se aproximava. e, dessa vez, ela viria com força!

ela viria pra me arrancar do seio quente e calminho das amizades para me afundar que nem areia movediça na minha cama. dias e noites na cama. cama, cama, cama. de vez em quando um banho, um alô pra família na hora das refeições só pra constar que eu ainda era um ser vivo, mesmo que em estado vegetativo. eu era uma pessoa catatônica. nao expressava prazer, muito menos felicidade com qualquer coisa que, em geral, causaria prazer ou felicidade em um ser humano normal.

meus amigos do trabalho estavam se tornando pais e, para mim, aquilo era um bosta. eu passei de novo no vestibular da federal e aquilo era uma bosta. uma amiga minha tinha ficado noiva, e, af, que bosta! minha tia fora diagnosticada com câncer e, é, a vida é mesmo uma merda e nao passava disso. nada era motivo de alegria e tudo passou a ser motivo para querer morrer.

meu sete a um realmente me derrubara. meus torcedores pareciam também ter desistido de mim; eu nao ia mesmo me reerguer. eu era um fracasso fadado a fracassar cada vez mais.

meu sete a um foi uma das minas crises depressivas que quase colocaram fim à minha saga aqui na terra. nao foi fácil sair daquele luto que parecia interminável. nao foi fácil chegar até aqui é hoje afirmar que estou bem, estou ótima, obrigada.

nao é fácil nao desistir. mas hoje eu consigo facilmente dizer com a mais absoluta certeza e sinceridade: eu quero viver.

a prolixa simplicidade

tao simples na sua complicaçao. difícil por fácil assim ser. e, de repente, tao ela. tao complicada e simples que ninguém se preocupava em entender por completo o que de fato estava deixando tudo tao complexo. talvez fosse excesso de simplicidade. ou entao era tudo complicado demais pra parecer tao simples daquele jeito.

até que tudo passou a fazer muito sentido. aquela boca roxa de dia, rosa de noite. verde de tarde. ardia a língua. a forma como falava mostrava que aquilo tudo era veneno. só havia veneno saindo da sua boca que mexia tanto que ardiam em chamas. mas tudo isso, claro, era alucinaçao dos outros. a garota, na realidade, era tao calada que o silêncio ensurdecia quem por perto estivesse. só que parecia o contrário. aquela antiga mistura de som e fúria e silêncio e paz. daí que a menina desapareceu para dar lugar a uma mulher. jovem mulher.

e, mais do que de repente, na jovem mulher agora habitava também a aurora de sua vida. sua salvaçao da loucura a que estava fadada havia um bom tempo já.

sua paz finalmente reinou.

viva a aurora!

era assim

era eu naquele quarto com mais alguém que eu sabia que nao conhecia. e de manhã tinha aqueles encontros com os outros. aqueles outros que partilhavam dos meus delírios só que deles. que sabiam que moravam, mesmo que por alguns poucos ou muitos dias, naquele lugar de ninguém. ninguém que te interessa. por vezes muito interessantes o que os levara até aquele lugar de todos. todos loucos e absolutamente normais em seus delírios. tao deles quanto meus. até que tudo começou a fazer sentido demais. até que o que já tivera sentido passou a nao mais ter. até que até você nessa sua inércia começou a me amar profundamente como se já me amasse desde que estivemos juntos pelo acaso de você me ligar chorando dizendo que tava muito mal porque tinha sido demitido e tudo o mais de chato e infeliz que sua vida tinha aprontado contigo. até que eu fui lá e entrei no seu delírio e me afundei em loucura. até que eu acordei nesse lugar de ninguém que te interessa que nao eu. será mesmo?

nao seria outro delírio?

era sim. nao. nao era assim.

era outra coisa.

as palavras. elas fogem. junto contigo.

volta.

motivos

um dos motivos da existência desse blog é o meu transtorno mental diagnosticado em dois mil e quatorze. desde essa sentença de morte da minha sanidade mental, eu me meti em muita enrascada. tive casos amorosos que falharam desastrosamente, amizades que pensei que pudessem suportar meus surtos, mas que se mostraram mais fracas que tudo, briguei muito com quem eu mais amo e passei a dar mais valor à minha família e aos meus verdadeiros amigos. as pessoas que eu tinha como muito importantes na minha vida e que preferiram sair dela, eu, dignamente, peço desculpas pelo transtorno literal que vocês viveram comigo, mas, do fundo do meu coraçao, eu peço: mantenham-se longe de mim; vai ser melhor para todos.

queria só resumir o que aconteceu comigo em três anos como uma bipolar: duas crises de euforia e duas crises de depressao. todas muito desastrosas, porém com suas vantagens. perdi pessoas que hoje vejo que realmente nao faziam muita diferença na minha vida e ganhei muitos amigos de verdade em lugares onde eu nunca imaginei estar; bares, cinemas, clínica de saúde mental, enfim, no fundo do poço e na porta de entrada do céu.

meu muito obrigada a todos esses anjinhos que ainda insistem em caminhar ao meu lado e boas-vindas ao meu mais novo anjo: meu primeiro bebê. obrigada também ao pai do bebê, matheus, eu te adoro, você vai ser um paizao, isso eu sei. obrigada também à minha linda e maravilhosa família. eu amo vocês para caralho.

boa semana a todos!